Pois é. Como os tipos da publicidade tão bem descobriram (e muito antes deles, muitos outros) a memória funciona por repetição. Ouvir muitas vezes que as Bolachas Gepeto são muito boas vai fazer o receptor desta informação considerar as Bolachas Gepeto melhores do que antes de receber esta informação. Está certo, o cérebro funciona assim, quem não sabe vai ser comido e quem sabe que faça uso disso.
O regime decidiu aproveitar para nos vir sacar. Já decidiu há uns tempos. Aliás, desde que existe. Os seus mais recentes cómicos prepararam a cena. Umas eleições, Manuela a dizer que sim e já, José dizendo que não que não. A banca, entretanto, chupa o crédito todo que há para chupar. O estado garante, o estado nacionaliza, o estado absorve. E depois o estado vai de arma na mão cobrar tributo. Por quê, perguntam vocês? Já ninguém se lembra. Os camponeses de antanho um dia escolheram um tipo para ficar de vigília a ver se vinha aí uma alcateia comer o gado, foi dormir, e quando acordou tinha que pagar o risco da banca. Lobos, é claro, já só imaginários.
Nada disto é novo, e já não choca. O que choca é a perfeita falta de ideias no debate, a memória curta e, evidentemente, a falta de gente disposta a questionar a raiz do problema. Isto é um jogo. As regras ditam que é assim. Que fazer? Vender casas ou hipotecar propriedades? E já ninguém está disposto a atirar o tabuleiro fora.
E com estas parvoíces pespegadas de organizações internacionais, o jogador tem cada vez menos opções. A bem dizer, já não tem nenhumas. Aumentar os impostos, cortar na despesa ou os dois?
Um protestozinho? Nada? É o "tem que ser". E fica por aí. Termino com um exemplo. Uma amiga minha estava a distribuir folhetos contestatários num mercado em Lisboa quando uma transeunte lhe diz, em surdina:
"Eu acho isso muito bem, mas agora temos que nos portar bem porque as agências de rating estão aí a ver o que andamos a fazer..."
E agora a única questão importante. A única que cai sobre alguém inteligente. A opção de vida. A que separa os humanos em dois grupos:
Isto é para rir ou é para chorar?
E não me voltam a ouvir falar deste assunto.
10 anos de Alfaiate
Há 6 anos