quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Medidas de austerida, ou a puta de que vos pariu

Pois é. Como os tipos da publicidade tão bem descobriram (e muito antes deles, muitos outros) a memória funciona por repetição. Ouvir muitas vezes que as Bolachas Gepeto são muito boas vai fazer o receptor desta informação considerar as Bolachas Gepeto melhores do que antes de receber esta informação. Está certo, o cérebro funciona assim, quem não sabe vai ser comido e quem sabe que faça uso disso.

O regime decidiu aproveitar para nos vir sacar. Já decidiu há uns tempos. Aliás, desde que existe. Os seus mais recentes cómicos prepararam a cena. Umas eleições, Manuela a dizer que sim e já, José dizendo que não que não. A banca, entretanto, chupa o crédito todo que há para chupar. O estado garante, o estado nacionaliza, o estado absorve. E depois o estado vai de arma na mão cobrar tributo. Por quê, perguntam vocês? Já ninguém se lembra. Os camponeses de antanho um dia escolheram um tipo para ficar de vigília a ver se vinha aí uma alcateia comer o gado, foi dormir, e quando acordou tinha que pagar o risco da banca. Lobos, é claro, já só imaginários.

Nada disto é novo, e já não choca. O que choca é a perfeita falta de ideias no debate, a memória curta e, evidentemente, a falta de gente disposta a questionar a raiz do problema. Isto é um jogo. As regras ditam que é assim. Que fazer? Vender casas ou hipotecar propriedades? E já ninguém está disposto a atirar o tabuleiro fora.

E com estas parvoíces pespegadas de organizações internacionais, o jogador tem cada vez menos opções. A bem dizer, já não tem nenhumas. Aumentar os impostos, cortar na despesa ou os dois?

Um protestozinho? Nada? É o "tem que ser". E fica por aí. Termino com um exemplo. Uma amiga minha estava a distribuir folhetos contestatários num mercado em Lisboa quando uma transeunte lhe diz, em surdina:

"Eu acho isso muito bem, mas agora temos que nos portar bem porque as agências de rating estão aí a ver o que andamos a fazer..."

E agora a única questão importante. A única que cai sobre alguém inteligente. A opção de vida. A que separa os humanos em dois grupos:

Isto é para rir ou é para chorar?

E não me voltam a ouvir falar deste assunto.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Um manifestação debaixo da bandeira de "Menos apoios! Menos apoios!"

Sobre isto.

Que fique aqui explícito que o A Alemanha Ganhou a Guerra aceita todo e qualquer apoio pecuniário da Embaixada de Israel em Lisboa e, caso esta ceda à pressão de cancelar o apoio ao festival queer, candidata-se especificamente ao dinheiro que sobrar.

Atentamente,

Um não esquisito.

P.S.: Isto é assim: Independentemente dos actos do Estado de Israel, nomeadamente para com a população palestiniana, que podem ou não ser repreensíveis - e a maioria são - o boicote a generalizado a tudo o que seja de Israel equivale a assumir a posição de que Israel não tem direito a existir. O que é uma posição de debate válida. Gostava simplesmente que os partidários destes boicotes, nomeadamente o Bloco de Esquerda, o assumissem explicitamente e deixassem de brincar aos humanistas.

Roupa de Inverno

Este fim de semana fui a Lisboa buscar a Roupa de Inverno. Preparação para o Inverno (sim, que toda a gente sabe que o Outono não existe e que o ano tem três estações e é por isto que os americanos chamam a esta altura Fall, ou seja, a Queda, assim, sem mais.) De que necessita o homem no Inverno, então? Paz e amor entre todos os homens? Não. O Portrait of the Artist as a Young Man e o Werther (não o original, get it?). Os Pescadores. Lembrar-se da Schöneberg a que só foi uma vez. O Se Uma Noite de Inverno Um Viajante traduzido pelo William Weaver (E se comprasse em italiano?). Ir cortar o cabelo. Alguns livros de poesia que não vou detalhar porque isso é um assunto privado. Os livros de que gostamos e que não conseguimos acabar - La Disparition, por exemplo. Os livros de contos que de certeza que ainda não lemos todos e que tivéssemos?: há alturas em que um Borges ou um Poe repetido calha sempre bem. Os livros a que reconhecemos valor mas por uma razão ou outra não nos hipnotizaram: O Rayuela, as Cidades Invisíveis. Alguns ensaios que não vou detalhar porque isso é um assunto privado. E não é que o Bookdepository tem uns valentes Calvinos em italiano? Os gajos que me notifiquem quando chegar os Nossos Antepassados, que eu sou gajo que lê trilogias, como aliás já se viu. E se lesse a do Gato de Schrödinger? Um homem precisa também de um bocadinho de pensamento científico, como o The cause of Business Depressions as disclosed by an analysis of the basic principles of economics, Democracy: the god that failed e o Theory of Games and Economic Behaviour, claro. E comprar dicionários bons, de Francês, Inglês e Italiano. E continuar a puxar aí pelo Alemão, ler um bocado o Bild ou assim. E os outros livros que para lá tinha e que ainda não li? Alguns trouxe.

Gosto muito de edições bonitas. Também trouxe um casaco e umas peúgas.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

De uma nova série

Espero dar algum frescor ao debate bloguístico a volta da economia inaugurando, em breve, uma Análise Económica tendo como base autores que percebam alguma coisa disto.

Sobre a sensação de falta de solução, de que as opções na mesa, as difundidas, que, por razão de sossegar o povo, sonegam por excesso de difusão as concorrentes, cito um textinho de alguém que percebe minimamente do que está a falar (surpresa, não é o Medina Carreira):
How is it that Marx and his theory are spoken of by every newspaper in the world ? Some have suggested as a reason the hopelessness, and the corresponding harmlessness, of the Marxian doctrine. "No capitalist is afraid of his theory, just as no capitalist is afraid of the Christian doctrine; it is therefore positively an advantage to capital to have Marx and Christ discussed as widely as possible, for Marx can never damage capital. But beware of Proudhon; better keep him out of sight and hearing! He is a dangerous fellow since there is no denying the truth of his contention that if the workers were allowed to remain at work without hindrance, disturbance or interruption, capital would soon be choked by an over-supply of capital (not to be confused with an over-production of goods). Proudhon's suggestion for attacking capital is a dangerous one, since it can be put into practice forth-with. The Marxian programme speaks of the tremendous productive capacity of the present-day trained worker equipped with modem machinery and tools, but Marx cannot put this tremendous productive capacity to use, whereas in the hands of Proudhon it becomes a deadly weapon against capital. Therefore talk away, harp on Marx, so that Proudhon may be forgotten."

Negritado por mim. Traduzido por Philip Pye e indisponível em qualquer das grandes superfícies internéticas de livros.

Assim, surpreende alguém o silêncio que se abate sobre o autor destas frases?

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Portugal, o Mundo

Portugal continua a ser o grande laboratório do mundo. O corolário número 1 da lei de Murphy: "Se uma coisa pode correr mal, vai especialmente mal em Portugal." Sabemos que somos um país de gente corcovada. Uma leitura das primeiras páginas d'O Mandarim logo nos dá um "Infelizmente corcovo - do muito que verguei o espinhaço, na Universidade, recuando como uma pega assustada diante dos senhores Lentes; na repartição, dobrando a fronte ao pó perante os meus Directores-Gerais." Só em Portugal, pensa o adepto dessa Religião tão da moda que é o da divindade "Estrangeiro", local de mérito, disciplina e regozijo. Mas segue que "esta atitude de resto convêm ao bacharel; ela mantém a disciplina num Estado bem organizado(...)". Num Estado bem organizado. Claro. Num qualquer. Onde haja Estados, eles se manterão disciplinados porque há quem se predisponha a corcovar. Ou, como dizia o Celine, no Nunca Assobies Enquanto Mijas, os cobardes encaram a sua obediência como uma virtude.

Querem exemplos? Olegário Benquerença, é claro. Corcovante de uns quaisquer interesses a quem convinha que o Benfica perdesse pontos em Guimarães. Olegário Benquerença é o exemplo de tudo o que está mal com a gente deste país, e portanto com as gentes do mundo. O prémio é tão mesquinho que só um companheiro corcovante o poderá apreciar, desejando com ódio a ele mesmo o não ter corcovado como lhe convinha. À promoção. À protecção da gente a que é "preciso agradar".

O Hicks chamava-lhes "suckers of Satan's cock". O corcovado, presume-se, ajuda à operação.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Portugal não é um país livre

Juro que vou emigrar, e desta vez é definitivo. Isto é um povo vil e inculto que só clama por sangue.
Consigo lembrar-me de umas 20 palavras portuguesas que vêm do francês. Em sentido oposto, só de uma: auto-da-fé. Puta que vos pariu.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Acho giro, faz-me confusão.

Nisto.

Diz-se isto:

"Vale a pena recordar isto porque se usou a pedofilia na Igreja, às vezes, mais para atacar a Igreja do que a pedofilia."


Só há uma coisa aqui que me faz alguma confusão.

Como, exactamente, é que se ataca a pedofilia? Estará a correr um debate na opinião pública sobre os prós e contras da pedofilia? Haverá os que a recomendem, mas que agora que se sabe que esta também há na Igreja, terão a credibilidade do seu argumento afectada?

É portanto agora que se vê a passar na Igreja que há novos argumentos para a atacar, numa espécie de "na Igreja já não acho bem", pressupondo-se que para existe alguém que antes até não era grave? Ou então pode talvez que, ao haver pedofilia na Igreja, se use dessa associação entre o acto e a instituição, que se presume então ser de má fama, para a atacar? "Ah, a pedofilia é mesmo má, vê lá que até anda associada com esses maltrapilhos da Igreja."

Juro que não percebo em que é que esta gente anda a pensar.

Apetece beijar o Vasco Pulido Valente

http://jornal.publico.pt/noticia/05-09-2010/uma-biografia-de-salazar-20146432.htm

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Vale a pena ler os comentários das notícias nos jornais online?

É evidente que não. Mas hoje nos comentários dos live-feed sentença do processo casa pia. Os crimes são "hodiondos"(sic) e grita-se morte aos pedófilos. Morte aos pedófilos? A frase enoja-me. Não quero discorrer sobre ela. Fica aqui o retrato da coisinha. E agora que estamos todos a tentar os grandes temas, quem trata das coisinhas?

Two paths diverged on the road

Que rapidamente se tornaram, ainda sem uma palavra posta no corpo de texto, numa rede de ligações. Filha da puta. Fazer um cocktail mais apropriado na próxima grande encomenda do Book Depository.

Boas noticias: Já tenho comigo o Pound, o Wittgenstein, o Joyce e um outro cujo nome não me lembro mas que é muito importante, caso contrário não tinha pedido que mo trouxessem. Também me saiu um Mandarim do Queiroz (do Eça, não do Carlos, se bem que isto de pensar em sincronicidades tem a sua piada) no Jornal de Letras e Artes. Não vos contei? Comprei o Jornal de Letras e Artes e a revista Os Meus Livros e conto comprar a Ler. Haverá resenha? Ah pois haverá. Para o fim de semana.

Being on your toes does not mean being anxious

Mais ou menos isto. O problema são os blocos, a ilusão do físico. Da permanência. Tudo é fluxo. E portanto é fluxo aquilo que vêm dos bicos dos pés (bicos, hum...) e que é uma tensão, um stress. A junta (a palavra que prefiro a articulação) está em tensão, está, portanto, em stress. Quando se fala de estar em bicos de pés, não se fala de não estar em bicos de pés, ou seja, não se fala em dormir, em estar a fazer a pesquisa ou o estudo, sentado a descansar a junta, para depois ela se comportar no ponto exigido quando a chamarmos a isso.

I need to relax. Sure. I also need a lay.

They should call me the Rhymenocerous

not because...

O John* dizia que na prisão era assim. E era por isso e só por isso que aquele pessoal todo prefere morrer a voltar para lá. Há qualquer tipo de coisa. No ar no em todo o lado. Se calhar é porque diligentemente procuro extrair a minha ansiedade. Se calhar sinto-me numa prisão.

not because...

Se calhar sinto-me numa prisão porque estou numa prisão - o trabalho, a visão não-demente das coisas - trabalho que se desenrola ao lado do edifício-prisão e portanto gatilho de coisas. E vejo a prisão sempre que fumo um cigarro, o cigarro anseio de liberdade e de qualquer coisa para pôr na boca.

but because I'm horny, I'm horny.

Deve ser dos ares serranis, das ervas serranis do todo serranil. Já tou por tudo, estátuas na rotunda (sabias que era só daquela vez), passeios parques (vou para casa a pensar que te queria levar) e objectos do lar insuspeitos (sorrio e digo: anda cá quando quiseres).

Não é bonito. Mas é assim que é. Se me expresso mal é porque até há pouco não escrevia sobre isto. E se escrevia era tudo muito sublimadinho. E mesmo sublimadinho não publicava, não mostrava, a vergonha, não não.

*Quem conhece o John sabe de quem falo (do John) quando digo "o John".